Zona Oeste: Natureza e memória

Essa ilha do complexo lagunar da Barra da Tijuca, habitada originalmente por pescadores, ainda é um segredo para muitos cariocas e visitantes. Quem chega de barquinho ou chalana encontra um vilarejo acolhedor com ruas de pedra arborizadas e casinhas coloridas - nem parece que a cidade grande está logo ali. Escolha um dos bares e restaurantes na beira da água e deixe o dia passar até a hora do pôr do sol.

Limão, gelo, açúcar e cachaça: eis a receita do drinque mais famoso do Brasil, historicamente ligado às camadas populares. Hoje, você pode provar caipirinhas feitas com várias outras frutas, como o caju. Melhor ainda se estiver à beira-mar, curtindo o visual da orla carioca.

Em uma bela sede assinada pelo escritório de paisagismo Burle Marx está o maior e mais significativo acervo de arte popular do país, com mais de nove mil obras de 300 artistas. Os elementos da cultura brasileira se revelam entre esculturas, quadros, instalações e vídeos, com a africanidade sempre presente, como não poderia deixar de ser. Não duvide: é um dos melhores museus do Rio hoje.

Esse pequeno oásis no bairro do Recreio foi criado para preservar a Lagoinha das Tachas, refúgio para alguns jacarés-de-papo-amarelo, espécie ameaçada de extinção. Entre as trilhas planas do parque é possível avistar capivaras e pássaros como o caboclinho, a marreca-toucinho e o tiê-sangue. Na entrada, há um parquinho para as crianças e uma sala com exposição de fotografias.

Com 12.500 hectares de Mata Atlântica, o parque é considerado a maior floresta urbana do mundo. Suas diferentes entradas dão acesso a trilhas que passam por rios, quedas d’água, praias e uma diversidade incrível de plantas e animais. No núcleo Quilombola, em Vargem Grande, não perca as cachoeiras da Mucuíba e da Divisa. À beira-mar, a trilha mais conhecida é a da Pedra do Telégrafo, que dá uma foto de tirar o fôlego.

Quilombos são símbolos de resistência e memória da ancestralidade africana, onde o conhecimento é compartilhado através da oralidade. Nesse quilombo em Vargem Grande, netos e bisnetos de Astrogilda levam os visitantes para fazer trilha, tomar banho de rio e conhecer a capelinha com o altar que já pertenceu ao terreiro da matriarca da família. Os moradores têm restaurantes por ali, como o Tô na Boa e o Bar da Nilza.

Jongo, maracatu, ijexá, coco e carimbó são alguns dos ritmos de referências indígenas e afro-brasileiras aos quais a organização se dedica. Duas sextas-feiras por mês, a educadora Itana Gomes compartilha seu conhecimento em divertidas aulas de dança sediadas na Associação de Moradores de Vargem Grande (Amavag).

A cultura afro-brasileira pulsa no centro cultural do bairro de Campo Grande. Todo terceiro sábado do mês, acontece uma roda de samba raiz, na qual você pode sentir a alma vibrar com o batuque do tambor e o repique da cuíca. O local também oferece aulas de percussão e capoeira e organiza rodas de conversa para pessoas negras se aprofundarem na busca por autonomia cultural, política e econômica.

Um quintal no bairro de Realengo e 12 pessoas apaixonadas por samba: foi assim que nasceu uma das rodas mais genuínas da cidade. Em volta de uma mesa, os músicos tocam os sambas clássicos que fizeram história na capital carioca - compre o ingresso com antecedência e chegue cedo, porque lota.

Na extremidade da Zona Oeste, o bairro é cheio de história: a região já abrigou, por exemplo, a residência de verão da família real portuguesa, além da primeira usina de energia elétrica do Rio de Janeiro. As caminhadas temáticas do Descubra Santa Cruz mostram ruínas, palacetes, monumentos e outros marcos que proporcionam um mergulho no passado.

Depois que o grupo decidiu se reunir para estudar e divulgar a cultura preta, o bairro de Campo Grande passou a ser referência para pessoas que querem se aprofundar no assunto. O Cedicun promove rodas de conversa, debates e palestras que visam impactar não só a comunidade local, mas toda a sociedade.

Moradora da Zona Oeste desde criança, Deca percebeu que a região onde vive não tinha destaque nos guias turísticos do Rio de Janeiro e, em 2017, criou a Lugares na Zona Oeste Tour. A empresa oferece roteiros guiados por vários bairros com o intuito de fazer as pessoas se apaixonarem por suas histórias.

Levantar a autoestima do homem preto: foi com essa intenção que Lucas desenvolveu uma técnica para aplicar dreadlocks em pessoas calvas. Pois é: ele apelidou a técnica de “baldlocks” e tem feito sucesso pela região de Santa Cruz.

Guia da agência Sou+Carioca e anfitriã de Experiências no Airbnb, Gabriela é especialista em afroturismo e organiza passeios para ver o Rio muito além do Cristo Redentor e do Pão de Açúcar. Ela ama compartilhar o que sabe sobre a história que a História não conta para todo mundo que esteja interessado em aprender.